domingo, 16 de maio de 2010

Ela

Fechou o vidro do carro impedindo a passagem de ar que acontecia.Olhou para a porta da casa e não viu nada.O horário rodava lá pelas onze da noite.Murilo estava ali,em frente a casa de sua ex-namorada.Estava ali sim,esperando uma oportunidade para poder conversar com ela.Não podia dizer que ele se encontrava em um bom estado mental,pois não dormia há mais de dois dias,só pensava nela,só vivia por ela.Por isso,esperava ali como alguém que espera pela vida,para que pudesse pelo menos conversar e tentar uma reconcilhiação.
Se ajeitou no banco,ligou o som do carro para que o tempo passasse.Não deve ter passado um minuto e Murilo já estava desligando o som.O tempo não passava.Se ajeitou de novo,verificou se o seu bolso estava cheio,e abriu o vidro do carro.Olhou para trás e percebeu que havia uma revista jogada no banco traseiro.Se esticou e pegou-a.Olhou a capa,não era uma revista nova,mas mesmo assim optou por ler.Começou,mas após dois minutos,perdeu a paciência e jogou a revista no lugar que ela já se encontrava antes.
Continuou ali,sentado no carro.Decidiu então por sair e fumar um cigarro,pois assim ele relaxaria um pouco.Assim foi feito.Murilo saiu do carro e acendeu o seu cigarro.Fazia um tempo frio,foi difícil acender,foi preciso um tempo.Pode-se dizer que foi um cigarro bem demorado,para que Murilo pudesse tirar toda a sua tensão naquela situação.Após esse momento,ele percebeu que o frio era tão grande que saia fumaça de sua boca.Fechou o agasalho o máximo possível e entrou de novo no seu carro,fechando o vidro que estava aberto.
Quando se ajeitou no banco,viu que a porta se mexeu.Era ela que saia da casa,com todo seu charme e toda sua beleza,que chamava a atenção de todos e deixava Murilo bêbado de amor.Viu então que o momento era aquele.Mas,antes que pudesse sair do carro,ela voltou para dentro da casa.Murilo logo deduziu que ela havia esquecido,era um hábito comum por ela.Não decorreram dois mintuos e lá estava ela de novo saindo de casa.
Murilo então,verificou mais uma vez o volume de seu bolso e abriu a porta do carro.Sem que ninguém percebesse,ele foi aos poucos se aproximando dela.Quando chegou perto,encostou em seu ombro e esperou.Ali estava Murilo,que havia esperado a noite inteira por aquilo.Só que no momento em que ela virou,Murilo não teve reação alguma.Várias palavras vieram na sua mente,foram até a sua língua,mas nenhuma saiu.Ele não tinha reação.Pensou em beijá-la,mas seu corpo não lhe proporcionou isso.De repente,de maneira inesperada,ele simplesmente tirou a arma que estava no seu bolso e atirou.Murilo quis gritar e tentar impedir seu corpo.Ela foi caindo aos poucos,olhando para ele,de um jeito de quem se perguntava o porque daquilo.Nem Murilo sabia ao certo,aquela ação não havia passado pela sua cabeça,mas seu corpo já tinha feito.Desesperado,queria ajudar a qualquer custo sua amada.Pórem,seu corpo se virou,andou até o carro,entrou e saiu da forma mais rápida.Ela,então,ficou ali,no chão,esperando lentamente pela sua morte.

domingo, 2 de maio de 2010

A Hora Atrasada

Uma vez,duas vezes,três vezes.Nada fez com que Arnaldo evitasse a colisão com aquele pedestre.Não devia ser muito tarde,porém o sol já não existia.O carro veio,não muito rápido,mas com velocidade o suficiente para machucar aquela pessoa que atravessava a rua.Arnaldo saiu do carro e foi constatar o que ele mesmo acabara de ter feito.Quando chegou na frente do seu carro,pôde ver que uma criança se encontrava jogada no chão.Rapidamente,pensou no que poderia ser feito.Ele conhecia um hospital ali perto,mas sabia que mexer na vítima poderia ser fatal,pois não sabia se a vítima tinha lesões na coluna ou em outras partes do corpo.
A decisão pairava no ar.Arnaldo olhou em volta e não encontrava ninguém.A bateria do seu celular havia acabado,para buscar socorro a criança ficaria ali no chão.Depois de relutar,chegou perto da criança e viu que ela ainda respirava.Pegou-a com muito cuidado e levou até o carro.Com toda a pressa,saiu o mais de pressa que pôde e foi em direção ao hospital.Chegando no destino,Arnaldo se encaminhou até a recepção e expôs a situação.A recepcionista disse que aceitava a criança,porém precisaria de um adiantamento para a cirurgia.Ele era um trabalhador,de família simples,não tinha aquele dinheiro.A atendente,então,falou que eram ordens dos médicos e que nada poderia ser feito.
Arnaldo voltou para o seu carro,olhou para a criança e observou que ela respirava com muita dificuldade.Existia um outro hospital,não muito perto,mas não restava outra opção.A toda velocidade,Arnaldo se encaminhou para o hospital seguinte.Quando chegou,olhou novamente para a criança,viu que dentro em breve ela morreria.Saiu como um trovão do carro e entrou no hospital.Explicou de novo a situação,dessa vez para o médico que se encontrava na porta.Ele não quis ouvir muita coisa,mas disse que sem adiantamento não haveria cirurgia.Arnaldo implorou,porém o médico disse que estava indo embora para casa,para que ele procurasse ajuda em um hospital público.
A porta do carro abriu com toda a força e Arnaldo encostou na criança.Ela não respirava mais.Por um momento Arnaldo ficou paralisado,não sabia o que fazer.Viu então que a criança tinha uma conta em seu bolso.O endereço era bem familiar,ele sabia aonde ficava aquela casa.Assumiu o volante novamente e levou o carro até o endereço que constava na conta do bolso da criança.
Desceu do carro,pegou a criança pelo colo e levou-a até a porta.Tocou a campainha e esperou.Quando abriram a porta,Arnaldo não pôde acreditar.A pessoa que se encontrava ali,na frente,era justamente o médico do primeiro hospital.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Os restos mortais

02:13,Rua Joaquim Alves Campos.Esse foi o boletim de ocorrência liberado pela perícia da polícia assim que encontrou aquele corpo jogado no meio do mato.Aos poucos,o tumulto foi se formando ao redor daquele corpo.Não se pode dizer que o tumulto era grande pois afinal de contas estava de madrugada,mas os poucos ali estavam atenciosos esperando por informações.Os dois policiais que faziam a ocorrência trataram de entrar no mato e ver a vítima de perto.Quando conseguiram entrar e tirar todo o mato que tampavam a visão de ambos,pôde-se ver que era uma mulher e que ela tinha o pescoço cortado,por onde havia muito sangue derramado.A mulher estava completamente nua,só vestia consigo uma calcinha que acusava uma aparência de antiga.
Não tinha RG,CPF ou nada que pudesse identificar aquela mulher jogada no mato com o pescoço cortado.Logo,Pedro,um dos policiais,perguntou se alguém ali presente sabia de algo ou tinha visto alguma coisa.Foi então que uma criança se dirigiu até o policial e disse:"É a minha mãe".Pedro olhou assustado para a calma que o menino apresentava."Como que ela chegou até essa situação,meu filho?" disse Pedro.O menino então,calmamente disse que estava no carro com sua mãe,pegando carona com um estranho."De repente,minha mãe disse que era para deixar ela a sós com o estranho,que rapidinho ela estaria lá comigo".Feito conforme o prometido,o menino desceu do carro e ficou ali mesmo,esperando.O carro andou um pouco mais para a frente,para que o menino não pudesse ter uma visão dele.Sua mãe sabia que precisava fazer aquilo,pois seu filho estava ali na estrada sem ninguém.Passaram dez minutos que o menino estava esperando quando chegou um carro e parou do seu lado.
O Senhor que estava no carro,muito simpático,perguntou o que ele estava fazendo aquela hora na estrada.Quando o menino apontou para o carro em que se encontrava sua mãe,só se ouviu o barulho do motor arrancando.E a partir daí,Pedro encontrava-se naquela cena."O Senhor do carro ainda está aqui?" perguntou.O Senhor,então,saiu da multidão e veio até Pedro,para prestar esclarecimentos.Quando perguntado,realmente o menino estava falando verdade,mas o Senhor só sabia da parte que tinha visto.Pedro então não podia ter no boletim de ocorrência um depoimento de uma criança como prova.Olhou para o seu companheiro e fez um sinal de positivo com a cabeça.Ambos caminharam até a mulher morta,pegaram-na e a colocaram na viatura.02:13,Rua Joaquim Alves Campos.Causa da morte:Desconhecida.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ao acaso

Uma palavra foi o suficiente para que Marina perdesse a paciência.Viu então que aquilo não podia estar acontecendo.Menina bonita,arrumada,sempre muito educada e simpática,simplesmente não achava uma saída para aquela situação.Seu ex-namorado tinha vindo falar sobre o antigo relacionamento,e logo Marina pôde observar que a conversa não seria em bom tom.Porém,resolveu levar em consideração todos os bons momentos que passaram juntos,todas as boas lembranças e deu um crédito para o seu ex-namorado.Afinal de contas,ele era o seu antigo parceiro.
João então falou que não estava sendo fácil sua vida,que sentia muita falta da companhia dela,que estava difícil superar o relacionamento.Marina também sofria com a separação,sentia falta dos carinhos e do jeito alegre que João tinha.Porém,assim como em todo fim de relacionamento,ela estava tentando tocar a sua vida e superar todos aqueles sentimentos que ainda giravam em sua cabeça.Então,Marina propôs que essa conversa não prosseguisse pelo telefone,mas que eles poderiam marcar um encontro.João concordou com a sugestão e ficou marcado o encontro para o próximo dia.
Logo que ela desligou seu telefone,caminhou até a janela.Antes que pudesse chegar,ouviu de novo o toque familiar do telefone.Quando atendeu,ouviu uma voz calma,que era de sua amiga.Lentamente e sem jeito,sua amiga disse que precisava falar com ela.Marina então perguntou do que se tratava e descobriu que o assunto era João.Vários pensamentos vieram em sua cabeça junto com todos os sentimentos.Porém,sua amiga relatou que João não se sentia péssimo com o término da relação,e que ele já estava saindo com outras.Disse também que João não sentia mais nada por Marina.
Após ouvir isso,Marina largou o telefone no chão e se sentou na cadeira ao lado da janela.Pensou o quanto João podia ser dissimulado,pois justamente quando ela estava superando o término da relação,ele havia ligado e retornado todos os seus sentimentos.Viu na verdade que estava sendo usada pelo seu ex-namorado.Com toda a sua conversa,ele conseguiu deixá-la comovida e acreditar numa situação que não existia.Guardou o telefone no gancho sem nem ao menos ver se a amiga se encontrava na linha ou não.Andou até a cama e se deitou.
No outro dia,João estava no local combinado,porém não se via Marina.Ele então sentiu que Marina tinha descoberto tudo a seu respeito.Mas,ele,levantou e foi embora indiferente.Já para Marina,não ir para àquele encontro foi pôr um ponto final naquela história.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um homem chamado André

Terno sempre limpo,sapatos sempre engraxados,camisa engomada e gravata combinando com a camisa.Esse era André,um dos executivos mais bem-sucedidos de sua empresa.Caminhava sempre rápido,parecia até que o tempo era o seu rival.André não saia daquela média de executivos que morreria aos 40 anos devido a um infarto,pelo contrário,não fazia nem questão de mudar.Ao menos,de uma coisa ele se vangloriava para os amigos de trabalho.Ele nunca tinha tido um carro,e por isso falava que não se estressava com o trânsito caótico de São Paulo.Logo,seu itinerário era sempre de estações e estações de metrô.
Porém,em um desses dias normais de sua vida,ele observou que o metrô também estava lotado.Como sua casa não se encontrava longe,optou por ir andando pelas bonitas ruas de São Paulo,afinal de contas aproveitaria e faria um exercício.Quando André passou por uma esquina,que era composta por um restaurante nela,sentiu uma mão no seu braço.Parou então e pôde observar de quem era a mão.Viu um sujeito na sua frente que vinha trajando uma calça e camiseta rasgada,um chinelo já todo remendado e por cima disso tudo uma grande manta,que continha também os seus respectivos furos.Antes que pudsse dizer alguma coisa,esse sujeito se apresentou,dizendo ser um andarilho,e pediu um dinheiro para poder comer algo no restaurante.
Naquele momento,André se sentiu mais aliviado por saber que não se tratava de algo mais grave,como por exemplo um assalto ou um sequestro.Pensou na possibilidade de ajudar aquele sujeito,que não fazia mal a ninguém,mas ficou sem saber o que falar.Seu coração queria ajudar,mas sua cara demonstrava nojo pelo andarilho.O andarilho,observando isso,largou o braço de André.Quando este percebeu,arriscou dá uma passe e continuar andando.
Mas,antes dessa ação,o sujeito lhe dirigiu a palavra."Você provavelmente está com medo de mim,mas na verdade nós não somos diferentes.Eu também tive oportunidades,mas preferi oferece-las aos necessitados e andar pelo mundo.Eu não sou um ladrão,ao contrário do que você pensou.Talvez você tenha ficado com nojo de mim,mas deveria sentir nojo de você,e de toda sua classe,que é mais suja do que toda a minha roupa junta.Se hoje eu sou assim,é por causa da sociedade que vocês criaram,com desigualdades e preconceitos.Um prato de comida era tudo que eu pedia,mas com certeza o dinheiro lhe trará coisas melhores".
Após essas palavras do andarilho,André tentou fazer algo para ajudar,mas o seu corpo ficou parado.O sujeito caminhou até uma lata de lixo e a vasculhou procurando comida.André,vendo aquilo,se virou e andou desesperado até a sua casa.Chegando,abriu a porta de sua casa bem devagar.Se arrastou até o sofá,viu a foto de sua familia no porta-retrato e jogou o seu corpo cansado no sofá.Ele já não sentia mais fome,frio,cansaço,amor.André não sentia mais nada.Não se sentia nem culpado nem inocente pelo tinha feito.Esperou mais um pouco,abriu a porta de casa,e saiu andando pela rua.Nunca mais se ouviu dizer sobre aquele homem chamado André.

terça-feira, 30 de março de 2010

O tempo perdido

Alice estava exatamente ali,parada na frente de Maurício.Aquele dia não era um dia como qualquer outro,pois entre os dois tinha uma história muito grande.Após seis anos sem se verem,os dois se encontravam naquela situação,parados,um olhando para o outro sem ao menos pronunciar uma palavra.
Voltemos um pouco no tempo para que o leitor possa entender melhor a situação presenciada pelos dois naquele dia.Há seis anos atrás Maurício era completamente apaixonado por Alice,mas não apenas uma paixão,e sim aquele amor em que cada dia que passa é um novo descobrimento da vida.Alice sempre foi muita amiga de Maurício,porém nunca teve o mesmo interesse de Maurício.É verdade que por algumas vezes rolaram alguns estranhamentos,em específico um dia em que foi além de um simples estranhamento.Mas,o que para Maurício poderia ser um começo do seu romance,para Alice foi apenas uma noite.
Com a conclusão da escola,suas vidas foram separadas.Na visão de Alice,a lembrança de Maurício era como um bom amigo nas horas que ela sempre precisou.Em contraposição,Maurício não conviveu muito bem com essa separação.Por várias vezes ele se pegou triste com algo ou sem nenhuma vontade,e sempre que procurava saber o porque,remetia a uma pessoa,Alice.Mas,como dizem,o tempo cura tudo,e Maurício teve outras paixões durante esses anos,mas nenhuma como aquela que ele tivera com Alice.
Agora,seis anos depois,eles se reencontravam.De princípio,um parou em frente ao outro,sem dizer nada.Depois de um tempo de silêncio,Alice disse então que estava muito feliz em ver Maurício e que nesses últimos meses tinha pensado bastante nele.Nesse instante,o coração de Maurício quase pulou pela boca,mas ele se conteve e apenas deu um sorriso de canto de boca.Alice então falou que eles poderiam tentar uma nova aproximação e quem sabe algo.
Bom,Maurício queria ouvir isso há seis anos,e agora seu sonho estava se realizando.Por um novo instante,os dois se encararam sem dizer nada.Maurício então resolveu falar.Ele preferiu não se alongar muito,mas disse em poucas palavras que Alice tinha sido seu único amor em sua vida,e que ele demorou algum tempo para que pudesse superar seu amor.Ainda disse que gostava muito dela e sonhava com o dia em que ela falaria isso para ele,mas que infelizmente ele não poderia possibilitar essa chance.
Alice olhou bem no fundo de seus olhos,e fez menção de chorar,tentou segurar,mas uma lágrima já havia caído de seu rosto.Maurício ainda refletiu,mas dessa vez não foi seu coração que disse mais alto,e sim sua mente.Reiterou que aquilo não poderia acontecer,virou as costas e saiu andando devagar.Antes de sair,parou e ainda percebeu que Alice chorava quieta e se sentia perdida.Maurício então só olhou de novo para frente e continuou andando.

sábado, 20 de março de 2010

O último suspiro

A porta se abriu e só se ouviu o barulho das chaves caindo sobre a mesa.Miguel chegava em casa após um exaustivo dia de trabalho.Fechou a porta e foi logo em direção ao banheiro para que pudesse lavar o seu rosto.Quando terminou,voltou para a sala e sentou-se no sofá.Sua casa não era grande,ao contrário,era pequena,tendo uma sala com uma cozinha americana,um banheiro e um quarto que mal cabia sua humilde cama.Levantou e caminhou até a geladeira,abriu-a e pegou sua garrafa de vodka,não totalmente cheia,mas o suficiente para esquecer dos seus problemas.
Se encostou na única cadeira que existia na sua cozinha,pegou o copo e despejou uma grande dose de vodka nele.Sem pensar duas vezes,virou tudo em apenas um gole e viu aquele líquido descer queimando pelo seu pescoço.Talvez aquele gole tenha sido o último que Miguel realmente sentiu descer.
De família boa,Miguel sempre teve oportunidades ao longo de sua vida,porém nenhuma delas aproveitou.Nunca foi apegado aos bens materiais,mas também nunca reclamou se os tivesse.Porém,como não aproveitou suas oportunidades,virou um mero esquecido no mundo dos fortes.Seu pai não olhava mais em sua cara,sua mãe então achava que ele,Miguel,era a maior decepção de sua vida em todos os sentidos.Seu irmão mais velho,homem de negócios,nem sequer se dignava a dirigir a palavra a ele.Além disso,Miguel não havia conseguido casar e constituir uma família,o que para ele era indispensável.
Olhando pela janela da cozinha,Miguel sabia que para muitos ele era uma tremenda decepção.Encheu novamente seu copo,e com outro gole,sentiu o líquido descer mais uma vez.Olhou em sua volta,levantou e foi caminhando em direção a gaveta do criado-mudo.Lembrou-se que ali ele guardava uma arma,presente de seu pai,e com muita paciência pegou-a,colocou a única bala que havia no tambor.Voltou então para a cadeira e jogou o seu corpo nela novamente.Agora Miguel não tinha apenas seu copo e a garrafa de vodka,mas também uma arma e uma bala.
Sua cabeça já não raciocinava mais.Colocou então o resto do líquido da garrafa em seu copo.Olhou bem para a sua arma e para dentro dela,que continha a bala.Pensou que isso não era o certo,mas pelo menos ele conseguiria por um ponto final nessa história.Bebeu mais um pouco,não o suficiente para esvaziar a copo.Então,levantou sua arma,colocou-a em sua cabeça para acabar tudo.Seu olho chegou escorrer uma lágrima,mas não foi útil para faze-lo parar.Puxou o gatilho e só se pôde ouvir o barulho.O líquido do copo já não era mais transparente,tinha um tom avermelhado.

domingo, 7 de março de 2010

O pôr-do-sol

Cansado,era isso e nada a mais.Fernando encontrava-se sentado no topo da cidade olhando de dentro do seu carro para o pôr-do-sol.Quase todos os dias ele entrava no seu carro após o trabalho e dirigia pela estrada até o ponto mais alto da cidade,parava seu carro e ficava ali olhando o pôr-do-sol para esvaziar sua cabeça.Quando lhe perguntavam o porque daquilo,ele simplesmente não sabia explicar,mas sabia que o sol caindo sobre o horizonte o acalmava.Não pensava em seu patrão,não pensava em sua familia,não tinha nada em mente a não ser observar o pôr-do-sol por completo.
Em um desses dias,Fernando terminou ficando um tempo a mais no topo da cidade observando o pôr-do-sol,e quando resolveu ir para a casa já estava praticamente de noite.Quando deu partida em seu carro,andou cerca de 50 metros e percebeu que o pneu estava completamente vazio.Pacientemente,saiu de seu carro para ver o pneu traseiro direito.Após olhar,chegou a conclusão que ele havia furado no caminho e que tinha esvaziado enquanto ele estava parado com o carro.Então,sem mais delongas,abriu seu porta-malas e pegou o estepe.
Após uns 20 minutos,Fernando havia trocado o pneu e estava pronto para continuar o seu caminho em direção sua casa.Portanto,tornou a entrar em seu carro,ligou e pegou a estrada.Enquanto Fernando andava pela estrada,dirgia praticamente automático,pois na verdade sua cabeça estava em outro lugar,pensando em todos os problemas que ele tinha.De repente Fernando observou que uma luz vinha na sua direção.De primeira estância,observou que era um carro.Olhando melhor,chegou a conclusão que o carro estava na contramão e que iria colidir com o seu.Então,colocou a luz forte no carro para avisar o perigo.
Nada,o carro continuava vindo na sua direção.Pnesou então em piscar a luz do carro.E assim foi feito,apagando e ascendendo sua luz.Porém,o carro continuava vindo em sua direção.Na sua última situação de desespero,Fernando mudou o carro de faixa,mas já era muito tarde.O outro carro fez o mesmo trajeto e...
Fernando acordou assustado.O sol tava se pondo e ele tinha que ir embora para casa.Então ligou o seu carro,mas observou algo estranho nele.Percebeu que seu pneu estava furado.Desligou o carro e pacientemente foi trocá-lo para ir embora para casa.

terça-feira, 2 de março de 2010

A vida como ela é

Todos fizeram silêncio quando Mercedes entrou em sala de aula.Esse ritual era o mais feito pelos alunos quando se tratava da professora Mercedes.Sempre com o cabelo preso,ela usava seu vestido de chita e na mão sempre carregava a sua prancheta,temida por todos os alunos.Era nela que as anotações estavam contidas,tais como presenças,matérias de provas e tudo que seus alunos faziam durante a aula.Os mais endiabrados tinham tremenda raiva do mau humor da professora,que sempre tratava todos com pouquíssimas palavras e de um jeito sempre ríspido.
Falando apenas o necessário,Mercedes ordenou para que os alunos fizessem uma redação sobre o tema que ela havia colocado na lousa.Alguns levantaram a mão,tiraram suas respectivas dúvidas e começaram a redigir suas redações.Sempre muito séria,Mercedes começou a andar pela sala de aula observando os seus alunos.De repente um fato chamou sua atenção,quando um de seus alunos havia começado com o seguinte título:"A vida como ela é".Vendo esse título,Mercedes sentiu uma sensação como nunca tinha sentido antes.Respirou fundo e continuou andando pela sala.
Pórem,quando ela deu mais três passos,parou e relfetiu sobre o curioso título de seu aluno.Pensou em como sua vida estava e por quantos momentos difíceis havia passado nos últimos meses.Parou para pensar o quanto ela tratava aquelas crianças de uma maneira ruim,quando na verdade o problema não eram as crianças mas sim ela mesma.Seu pai tinha falecido no mês passado de uma forma horrível,e Mercedes sabia que ela tinha tido um parcela de culpa.Sabia também que sua maior tristeza era não falar com sua mãe há quase 5 anos,após uma situação boba criada pelas duas e a arrogância tinha falado mais alto todos esses anos impossibilitando sua reaproximação com sua mãe.
De repente Mercedes observou que meninos e meninas passaram correndo pelo corredor com uma alegria imensa contagiando todos ao redor.Pensou em repreender os meninos,mas depois pensou melhor e ficou quieta.Na verdade,por um instante quis abraçá-los para numa tentativa de desespero ter aquela alegria.Não fez isso também,ficou ali apenas pensando.Levantou a cabeça,enxugou uma possível lágrima e deu um sorriso se conformando com a vida como ela é.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O caso do colégio Madre Teresa

Pedro.Era tudo isso que Juliana havia pensado nos últimos seis meses.Sua vida havia se resumido apenas a uma pessoa,e tudo que ela fazia tinha o intuito de agradar Pedro.Juliana sempre foi uma menina tímida,sentia vergonha de si mesma e sempre achava os outros mais capacitados.De uma familia humilde,não tinha os luxos iguais os seus amigos da escola,tais como viagens para a Europa,roupas da última estação,Ipods,notebooks,enfim,não tinha o mesmo padrão de seus colegas.Juliana nunca era convidada para as festas,pois achavam que ela não era capacitada o bastante para tal evento.Mas ela tinha algo que todos os seus colegas não tinham.Juliana tinha entrado no colégio Madre Teresa através de uma prova,por isso seu conhecimento era acima do normal.
Numa terça-feira tudo ocorria do mesmo modo.Trabalho de classe,Juliana era a mais requisitada entre todos,e na hora do intervalo ela era a mais isolada.Nesse dia porém os fatos não aconteceriam como o normal.Sentada na escadaria do colégio ela comia o seu lanche feito em casa com todo o amor de sua mãe.Estava vestida com o famoso vestido azul do Madre Teresa e tinha como acessório o seu cinto de jeans.Usando uma flor no cabelo,Juliana arriscava imitar as suas colegas consideradas tão populares.Vendo aquela cena,igual em todos os dias,Pedro resolveu deixar seu amigos de lado e ir conversar com Juliana.
Quando Pedro se aproximou de Juliana e a cumprimentou,ela estava tão distraida que até se assustou.Então,ele perguntou se poderia se sentar com ela.Logo,o simples desejo de Juliana de conversar com Pedro estava sendo realizado.Tremendo,ela fechou o livro e deu um sorriso para ele.Talvez não tenha sido o melhor sorriso,mas com certeza foi o mais contente que ela tinha dado até aquele momento na sua vida.Juliana percebeu que Pedro também estava suando frio quando ele começou a falar.Meio sem jeito,ele disse a Juliana que a achava muito bonita e que gostaria de convidá-la para a festa no sábado.Juliana,num momento de nostalgia enorme,aceitou o convite de seu amado com o brilho do mar em seus olhos.Ele,então,deu um beijo em sua bochecha,levantou e se juntou aos seus amigos a caminho da aula.
Juliana ficou mais um momento na escadaria ainda meio aérea,sem saber qual sentimento era aquele percebido por ela.Levantou,foi caminhando devagar em direção a sala,e soube desde aquele dia o significado do amor.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

À Espera do 724

Quinta-feira,dia 17 de abril.O horário não sei bem ao certo dizer,há quem diga que foi por volta das 18:00 horas.Lurdes e seu filho Bernardo esperavam o ônibus 724 que os levaria de volta para casa.Lurdes,sempre bem vestida,calçava sua bota com salto Luís XV,um pouco gasto de horas e horas de espera,uma calça jeans,talvez não fosse a melhor mas com certeza era o seu xodô,acompanhado de uma blusa branca e sua jaqueta jeans.Já seu filho,Bernardo,de 12 anos,ia calçando seu antigo chinelo,seu bermudão já rasgado na altura da coxa e sua camisa regata.Naquele dia Lurdes havia levado seu filho para o trabalho,pois sua irmã não tinha condições para cuidar de Bernardo,e assim tinha começado a rotina dos dois.Após um árduo trabalho,Lurdes queria somente chegar em casa e descansar o máximo possível.
Parada ali naquele ponto movimentado,Lurdes observava as pessoas.À sua frente estava um empresário,que falava apressadamente no celular enquanto o outro tocava.Muito nervoso,sua mão tremia e ele suava frio.Ao seu lado ela via uma senhora,aparentava ter uns 80 anos,esperando com um olhar distante do normal.Na esquina tinha um senhor com o seu carrinho de mão vendendo picolés.Bernardo,entediado com a demora do ônibus,pediu para sua mãe um picolé.Lurdes,cansada das horas de trabalho,deu o dinheiro para o seu filho e pediu que ele se cuidasse.Nesse instante,passou um outro ônibus,que não pararia no ponto em frente a sua casa,mas pararia uma rua acima.Pensou em entrar,mas estava muito exaurida para andar esse quarteirão.É verdade que ela chegaria mais cedo em casa,mas preferiu esperar o 724.
Então,Lurdes começou a relfetir sobre a vida,pensou em como sua vida poderia ser diferente se ela estivesse casada.Também pensou em todas as decisões tomadas na sua vida,em toda vez que ela havia tentado acertar e por algum motivo alguém sempre a julgou.E quando ela voltava atrás,tentando agradar alguém,terminava desagradando outra.Refletiu ainda sobre o seu afastamento com a sua família e como ela sentia falta de um ombro amigo ou pelo menos de uma palavra companheira,para alegrar nos momentos mais dificeis e complicados,e não palavras ásperas e duras como o de costume.Sua família nunca tinha apoiado as suas idéias e pensamentos,e quando Bernardo nasceu,o julgamento foi pior.
Quando olhou para a esquina,ela via seu filho brincando,feliz com o picolé na mão.Ela conseguia ver toda a felicidade do mundo nos olhos de Bernardo,sua razão de trabalhar horas e horas sem desistir nem sequer um dia.Quando pôde observar,uma lágrima havia caído de seu olho.Sentindo vergonha,Lurdes fechou seus olhos e teve flashs da sua vida inteira,e lembranças da sua infancia aparaceram em sua cabeça.Flashs e mais flashs,e de repente uma luz muito forte nos seus olhos,pessoas gritando,buzinas de carros,uma luz maior ainda...
Bernardo veio correndo sem entender a gritaria causada no lugar.Quando ele chegou no ponto,sentiu sua vista ficar cansada e desmaiou.Só no dia seguinte Bernardo foi entender o que tinha acontecido,quando pegou o jornal com os seguintes dizeres:"ÔNIBUS 724 PERDE O CONTROLE E MATA UMA MULHER".