terça-feira, 20 de abril de 2010

Os restos mortais

02:13,Rua Joaquim Alves Campos.Esse foi o boletim de ocorrência liberado pela perícia da polícia assim que encontrou aquele corpo jogado no meio do mato.Aos poucos,o tumulto foi se formando ao redor daquele corpo.Não se pode dizer que o tumulto era grande pois afinal de contas estava de madrugada,mas os poucos ali estavam atenciosos esperando por informações.Os dois policiais que faziam a ocorrência trataram de entrar no mato e ver a vítima de perto.Quando conseguiram entrar e tirar todo o mato que tampavam a visão de ambos,pôde-se ver que era uma mulher e que ela tinha o pescoço cortado,por onde havia muito sangue derramado.A mulher estava completamente nua,só vestia consigo uma calcinha que acusava uma aparência de antiga.
Não tinha RG,CPF ou nada que pudesse identificar aquela mulher jogada no mato com o pescoço cortado.Logo,Pedro,um dos policiais,perguntou se alguém ali presente sabia de algo ou tinha visto alguma coisa.Foi então que uma criança se dirigiu até o policial e disse:"É a minha mãe".Pedro olhou assustado para a calma que o menino apresentava."Como que ela chegou até essa situação,meu filho?" disse Pedro.O menino então,calmamente disse que estava no carro com sua mãe,pegando carona com um estranho."De repente,minha mãe disse que era para deixar ela a sós com o estranho,que rapidinho ela estaria lá comigo".Feito conforme o prometido,o menino desceu do carro e ficou ali mesmo,esperando.O carro andou um pouco mais para a frente,para que o menino não pudesse ter uma visão dele.Sua mãe sabia que precisava fazer aquilo,pois seu filho estava ali na estrada sem ninguém.Passaram dez minutos que o menino estava esperando quando chegou um carro e parou do seu lado.
O Senhor que estava no carro,muito simpático,perguntou o que ele estava fazendo aquela hora na estrada.Quando o menino apontou para o carro em que se encontrava sua mãe,só se ouviu o barulho do motor arrancando.E a partir daí,Pedro encontrava-se naquela cena."O Senhor do carro ainda está aqui?" perguntou.O Senhor,então,saiu da multidão e veio até Pedro,para prestar esclarecimentos.Quando perguntado,realmente o menino estava falando verdade,mas o Senhor só sabia da parte que tinha visto.Pedro então não podia ter no boletim de ocorrência um depoimento de uma criança como prova.Olhou para o seu companheiro e fez um sinal de positivo com a cabeça.Ambos caminharam até a mulher morta,pegaram-na e a colocaram na viatura.02:13,Rua Joaquim Alves Campos.Causa da morte:Desconhecida.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ao acaso

Uma palavra foi o suficiente para que Marina perdesse a paciência.Viu então que aquilo não podia estar acontecendo.Menina bonita,arrumada,sempre muito educada e simpática,simplesmente não achava uma saída para aquela situação.Seu ex-namorado tinha vindo falar sobre o antigo relacionamento,e logo Marina pôde observar que a conversa não seria em bom tom.Porém,resolveu levar em consideração todos os bons momentos que passaram juntos,todas as boas lembranças e deu um crédito para o seu ex-namorado.Afinal de contas,ele era o seu antigo parceiro.
João então falou que não estava sendo fácil sua vida,que sentia muita falta da companhia dela,que estava difícil superar o relacionamento.Marina também sofria com a separação,sentia falta dos carinhos e do jeito alegre que João tinha.Porém,assim como em todo fim de relacionamento,ela estava tentando tocar a sua vida e superar todos aqueles sentimentos que ainda giravam em sua cabeça.Então,Marina propôs que essa conversa não prosseguisse pelo telefone,mas que eles poderiam marcar um encontro.João concordou com a sugestão e ficou marcado o encontro para o próximo dia.
Logo que ela desligou seu telefone,caminhou até a janela.Antes que pudesse chegar,ouviu de novo o toque familiar do telefone.Quando atendeu,ouviu uma voz calma,que era de sua amiga.Lentamente e sem jeito,sua amiga disse que precisava falar com ela.Marina então perguntou do que se tratava e descobriu que o assunto era João.Vários pensamentos vieram em sua cabeça junto com todos os sentimentos.Porém,sua amiga relatou que João não se sentia péssimo com o término da relação,e que ele já estava saindo com outras.Disse também que João não sentia mais nada por Marina.
Após ouvir isso,Marina largou o telefone no chão e se sentou na cadeira ao lado da janela.Pensou o quanto João podia ser dissimulado,pois justamente quando ela estava superando o término da relação,ele havia ligado e retornado todos os seus sentimentos.Viu na verdade que estava sendo usada pelo seu ex-namorado.Com toda a sua conversa,ele conseguiu deixá-la comovida e acreditar numa situação que não existia.Guardou o telefone no gancho sem nem ao menos ver se a amiga se encontrava na linha ou não.Andou até a cama e se deitou.
No outro dia,João estava no local combinado,porém não se via Marina.Ele então sentiu que Marina tinha descoberto tudo a seu respeito.Mas,ele,levantou e foi embora indiferente.Já para Marina,não ir para àquele encontro foi pôr um ponto final naquela história.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um homem chamado André

Terno sempre limpo,sapatos sempre engraxados,camisa engomada e gravata combinando com a camisa.Esse era André,um dos executivos mais bem-sucedidos de sua empresa.Caminhava sempre rápido,parecia até que o tempo era o seu rival.André não saia daquela média de executivos que morreria aos 40 anos devido a um infarto,pelo contrário,não fazia nem questão de mudar.Ao menos,de uma coisa ele se vangloriava para os amigos de trabalho.Ele nunca tinha tido um carro,e por isso falava que não se estressava com o trânsito caótico de São Paulo.Logo,seu itinerário era sempre de estações e estações de metrô.
Porém,em um desses dias normais de sua vida,ele observou que o metrô também estava lotado.Como sua casa não se encontrava longe,optou por ir andando pelas bonitas ruas de São Paulo,afinal de contas aproveitaria e faria um exercício.Quando André passou por uma esquina,que era composta por um restaurante nela,sentiu uma mão no seu braço.Parou então e pôde observar de quem era a mão.Viu um sujeito na sua frente que vinha trajando uma calça e camiseta rasgada,um chinelo já todo remendado e por cima disso tudo uma grande manta,que continha também os seus respectivos furos.Antes que pudsse dizer alguma coisa,esse sujeito se apresentou,dizendo ser um andarilho,e pediu um dinheiro para poder comer algo no restaurante.
Naquele momento,André se sentiu mais aliviado por saber que não se tratava de algo mais grave,como por exemplo um assalto ou um sequestro.Pensou na possibilidade de ajudar aquele sujeito,que não fazia mal a ninguém,mas ficou sem saber o que falar.Seu coração queria ajudar,mas sua cara demonstrava nojo pelo andarilho.O andarilho,observando isso,largou o braço de André.Quando este percebeu,arriscou dá uma passe e continuar andando.
Mas,antes dessa ação,o sujeito lhe dirigiu a palavra."Você provavelmente está com medo de mim,mas na verdade nós não somos diferentes.Eu também tive oportunidades,mas preferi oferece-las aos necessitados e andar pelo mundo.Eu não sou um ladrão,ao contrário do que você pensou.Talvez você tenha ficado com nojo de mim,mas deveria sentir nojo de você,e de toda sua classe,que é mais suja do que toda a minha roupa junta.Se hoje eu sou assim,é por causa da sociedade que vocês criaram,com desigualdades e preconceitos.Um prato de comida era tudo que eu pedia,mas com certeza o dinheiro lhe trará coisas melhores".
Após essas palavras do andarilho,André tentou fazer algo para ajudar,mas o seu corpo ficou parado.O sujeito caminhou até uma lata de lixo e a vasculhou procurando comida.André,vendo aquilo,se virou e andou desesperado até a sua casa.Chegando,abriu a porta de sua casa bem devagar.Se arrastou até o sofá,viu a foto de sua familia no porta-retrato e jogou o seu corpo cansado no sofá.Ele já não sentia mais fome,frio,cansaço,amor.André não sentia mais nada.Não se sentia nem culpado nem inocente pelo tinha feito.Esperou mais um pouco,abriu a porta de casa,e saiu andando pela rua.Nunca mais se ouviu dizer sobre aquele homem chamado André.